domingo, 20 de setembro de 2009

O PRÍNCIPE



Sempre me surpreendeu o axioma utilizado em português para nos referirmos a algo que achamos calculista e maldoso - o adjectivo maquiavélico. Aparte se parecer foneticamente com bélico a palavra deixou-me curioso em demasia até conseguir deitar a mão a um dos seus livros mais conhecidos e que ganhou notoriamente estatuto de clássico e que é este livro que vos trago aqui - O Príncipe.

Para melhor ler este livro há que conhecer também a história de Niccolo Maquiavel, que intercala períodos de brilhantismo sob o ducado de Florença com alturas de caída em desgraça. O livro é um panfleto que surgiu numa época conturbada para o escriba e que lhe serviu como unguento e homenagem destinado a cair novamente nas boas graças do todo poderoso governante do Grão Ducado da Toscana, Lourenço de Médici.

Oferecido por Maquiavel ao estadista como seu único possível presente em todos os possíveis presentes - o escritor reforça a ideia de que a sua única graça é a escrita e que nada mais poderia ofertar - O Príncipe é uma colecção de observações e um guia inteligente para a compreensão da governação dos povos e do papel e comportamento do governante para que melhor governe ou para também que mais e melhor usufrua e mantenha os seus estados conquistados.

É interessante reparar que a edição que tenho em casa foi comentada por Napoleão que usou o livro como cartilha antes e ainda durante a sua conquista da Europa. É delicioso estudar o seu comportamento, as suas afectações e a sua arrogância que finalmente o perderam com a Guerra Peninsular e o General Inverno. Ao ler o livro de Maquiavel lembrei-me doutro livro do género - A Arte da Guerra de Sun Tzu que também já comentei por aqui.

E ao lê-lo percebi perfeita e finalmente o significado de maquiavélico. É de calculismo e de diplomacia que é feito o livro, é sobre a perfeição e idealização do estadista que discorre o livro, é sobre o governo ideal que nos fala Maquiavel e é sobre a necessidade da inteligente aliança ou declaração de guerra em determinado momento providencial que leva a que o príncipe se mantenha como incontestado e eterno governante sobre os seus estados. A palavra que surgiu reflecte esse modo calculista e diplomata de estudar o problema e lhe aplicar a melhor solução - não necessariamente a última ou a que leve a avançar, mas sim aquela necessária em que o recuo e a passividade surgem como virtudes de espera e de sobranceria.

É de ler - é de estudar. É um documento histórico necessário e de perfeita compreensão das mentalidades e intrigas da Alta Idade Média italiana.

Relido por LX em saltitando.

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