domingo, 20 de setembro de 2009

O CHEIRO DO RALO

Selton Mello é dos indivíduos mais interessantes e versatéis no cinema brasileiro da actualidade - vide tb o Tarantino's Mind neste blogue - e corre por aí que lutou afincadamente pelo papel de Lourenço neste hilariante filme de Heitor Dhalia de 2007.

Ele interpreta o demente e escatológico dono de uma loja de produtos usados atormentado pelo cheiro (vindo) do ralo da casa de banho que utiliza e que dá porta com porta com o seu gabinete. A cada pessoa que recebe Lourenço vê-se na necessidade - após o desconforto demonstrado por quem ali chega a vender, a vender-se - de justificar o cheiro que dali se solta.

Marionetando as pessoas, manejando as suas crenças e humilhando-as defecando-se, este Lourenço confunde-se ele próprio com esse cheiro que ele repetidamente rejeita e justifica - ele que terminou bruscamente o noivado com a noiva entretendo-se onanista defronte da televisão com programas de aeróbica 'Aye, aye!' e ele também que persegue carnal a bunda da rapariga da lanchonete que ironicamente o obriga a frequentar diariamente a latrina cujo cheiro o assola 'Eu dava tudo para ter essa bunda'!

O Cheiro do Ralo recorda-me os filmes de Guy Ritchie na sua essência suja e no descarnar da fealdade humana, é satírico e mordaz e ao se aproximar tanto ao fundo - vísceral - quase que tapamos o nariz com o cheiro desse ralo, enquanto aspiramos o ar fétido que julgamos cheirar, pela boca, de tão hilariante se revela.

Excelente filme ou como se diria por lá: isso aqui é de cu de rôla! A ver, rever, ver.

Visto nas Loff Sessions na Sede do MAL , Lisboa
Depois revisto no Pátio Fradique, Lisboa, CineLençol do MAL
Web OCheiroDoRalo

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