domingo, 20 de setembro de 2009

A DÚVIDA



John Patrick Shanley comentava em entrevista de apresentação de Doubt que se perdeu a instituição da dúvida com o carácter de sabedoria que antes a resumia e que se lhe colou entretanto agora o da fragilidade da indecisão. Longe de tentar clarificar se indubitavelmente a dúvida se degradou como instrumento de reflexão Shanley ensaia uma história passada num colégio católico do Bronx nos anos 60 que foi peça multi-premiada com um Pulitzer e 4 Tony.

Nunca um filme aparentemente tão simples foi pródigo em réplicas de interpretação sobre o resultado final, sobre o evoluir da história e sobre qualquer moral ou conclusão a retirar-lhe. A directora do colégio (Meryl Streep como a Sister Aloysius Beauvier) começa a construir a dúvida de conduta incorrecta sobre os alunos por parte do Padre Flynn (Philip Seymour Hoffman - PSH) a partir do próprio sermão deste, alimentada ainda por alguns pequenos sinais. Contextualizar essa dúvida nas reais certezas dos inúmeros casos de pedofilia no seio da Igreja Católica americana é tão só um dos muitos elementos que elevam a complexidade crescente que toma o filme e tão só não se concretiza como se adensa ainda mais a ponto de a dúvida se prolongar após vê-lo.

Esse é o ponto mais forte da peça/filme de Shanley e a arrebatadora oratória do Padre Flynn sobre temas do quotidiano durante a homilia foi tanto o catalisador para a dúvida de Beauvier que logo colocou todas as restantes freiras do colégio atentas ao comportamento do sacerdote (atentem à frase que fecha o sermão dedicado à dúvida, que ecoa na nave do templo da igreja e da nossa mente). Destas uma se destaca e se assume depois como interlocutora da dúvida da sua superiora, a Irmã James, que vai notando alguma estranheza na atitude de um dos seus pupilos e única criança negra da escola que é menino de coro e muito próximo do nosso padre.

A calculista Irmã Aloysius defronta a própria instituição católica ao confrontar o padre directamente e esta dupla de actores (Streep / Hoffman) cedem ao filme toda a sua grandeza na interpretação em contínuo choque e acusação – Aloysius defende a manutenção do conservadorismo e Flynn a abertura de pensamento do colégio, Aloysius aborda a mãe da criança e Flynn contra-ataca com o sermão dedicado à Intolerância (emprestando-lhe a bela imagem da almofada rasgada com penas ao vento). Não se poderá concluir nada e a dúvida permanece – ela mina cada passo do filme e cada actuação das suas diferentes personagens – e não há vitoriosos ou derrotados e nem a criança, epicentro de toda a história, sairá de facto (ou talvez não) ilesa.


O momento mais extraordinário do filme e aparte toda a portentosa interpretação do par em confronto é o do diálogo entre a mãe da criança (Viola Davis como Mrs. Miller) e a directora do colégio – é arrebatadora e bem merecerá o Óscar para que está nomeada e por apenas esses poucos minutos de intensidade dramática.

Frase : Streep vs Hoffman, o melhor duelo entre gigantes da década!
Pontuação : 4

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