terça-feira, 5 de novembro de 2013

THE COMPANY MEN

















Homens de Negócios de John Wells (The Company Men de 2010) é um filme optimista passado na actualidade em Boston, que faz paralelo com a crise económica presente, como já Capra e um tardio Charlie Chaplin o tinham feito com a Great Depression de 1929 (e outros diversos títulos da época feitos na esteira do Zeitgeist do momento). A aproximação a Capra é mais evidente ainda quando se joga neste filme o destino de diversos indivíduos contra a radical crueza capitalista das corporações, da corporação. É o fundamental binómio indivíduo sacrificado vs. grande corporação inclemente, fórmula Robin Wood vencedora mas também uma espécie de Neo-realismo necessário e natural.


O cinema responde sempre às perguntas do momento e acompanham o mundo real nas suas diversas cristas e depressões de onda. Acompanhamos a decadência social e económica de diversos trabalhadores de topo duma firma naval com diversos estaleiros (a GTX) que os dispensa sem dar carta. É sem falsos moralismos que o filme se concentra no desemprego de colarinho branco e ao fazê-lo revela uma faceta desconhecida da recessão actual. A elite também é atingida. A elite não é estanque. E é a elite que ao cair o faz mais evidentemente, pois a queda ao partir dum ponto mais alto é ainda maior e mais barulhenta. Mostra sobretudo como a crise é viral e se reflecte a todas as classes (entenda-se económicas) da sociedade. Enquanto a crise é o cenário onde vão aparecendo desempregados em sombra-chinesa, a corporação – e o seu chefe, cabecilha que manipula pessoas sem outra intenção que não o lucro próprio e a satisfação dos accionistas – o vilão. Um vilão encartado e cotado em bolsa em que o elo mais frágil e facilmente podado por água vai, serão sempre os empregados. Sejam soldadores ou executivos. Ninguém é indispensável, mas aqui mostra-se que dispensável pode ser qualquer um, mesmo que tenha importância dentro do sistema económico. Fundamental é só mesmo o valor da acção, elemento indivisível que se sobrepõe ao átomo, ao quark e ao trabalhador diligente.

Este é, acima de qualquer outra consideração, um filme responsável. Tem interpretações convincentes, sólidas e é um gesto necessário ao sabor dos tempos. Ultrapassa a mediania e fica a milhas de ser categorizável como filme domingueiro. Além de que tem o detalhe de nos apresentar um Kevin Costner entradote que deixa apenas entrever a recordação do herói carteiro e activista dos nativos americanos. Este é bem possivelmente o melhor papel que lhe vi desde que bailou com canídeos.

Título original : The Company Men
Realizador : John Wells
Actores : Ben Affleck, Tommy Lee Jones e Chris Cooper

Rafael Vieira 2011, publicado na revista TAKE n27 

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